Um jovem vendedor da Tunísia, após ter seus produtos confiscados pela polícia por se recusar a dar propina, atea fogo ao próprio corpo como protesto reivindicando melhores condições de vida em dezembro de 2010. O impacto desse ato no mundo árabe foi grande o suficiente para gerar as revoltas da Primavera Árabe, que tem apoio dos jovens e das redes sociais. A auto-imolação fez com que 10 dias depois o presidente da Tunísia, Ben Ali, no poder desde 1987, fugisse para a Arábia Saudita. Vários países do Oriente Médio e do norte africano se juntaram ao movimento causando quedas de ditadores há muito no poder.
As motivações desses protestos vieram das más condições de vida, do desemprego, da injustiça social e política, da falta de liberdade e da falta de infraestrutura em lugares onde todo o beneficio de economias em crescimento fica nas mãos de poucos e corruptos. Os regimes nacionalistas árabes nascidos nas décadas de 1950 e 1970 foram se convertendo em governos repressores que impediam a oposição política. Durante a Guerra Fria essas revoluções não poderiam acontecer pois os países árabes submetiam seus interesses nacionais aos do capitalismo estadunidense ou do comunismo russo. Vinte anos após o fim da Guerra Fria, com o mundo globalizado e as redes sociais servindo de vazão para ideias para a melhora da sociedade e da política, a Primavera Árabe tem seu início.
Na Tunísia, o país onde surgiu os protestos, chamaram o movimento de Revolução de Jasmim. Teve início em 2010 e terminou em Janeiro de 2011 com a queda de Ben Ali. Na Líbia chamam de Revolução Líbia, uma das mais sangrentas, e tem o objetivo de acabar com a ditadura de Muammar Kadhafi; Kadhafi foi morto em um combate contra os rebeldes em outubro de 2011. No Egito o nome varia muito, Revolução da Juventude e Dias de Fúria são alguns exemplos, os movimentos realizados são contra Hosni Mubarak; Mubarak anuncia eleições e as vence, é deposto em 2013 pelos militares apoiados pela Irmandade Muçulmana, que formam um governo interino, e também são depostos, surge um novo governo interino; eleições são esperadas para a esta primavera (outono no hemisfério sul).Os protestos da Argélia objetivam a derrubada do atual presidente Abdelaziz Bouteflika, há 12 anos no poder; Abdelaziz convoca novas eleições e as vence; protestos continuam, mostrando a insatisfação do povo argeliano. A Primavera Árabe levou a uma Guerra Civil na Síria, lutando contra o ditador Bashar al-Assad, cuja família está no poder há 46 anos; há denuncias de que estão sendo utilizadas armas químicas e biológicas pelo governo contra o próprio povo; nem a ONU nem a conferência de paz, em Genebra, conseguiram parar a Guerra Civil. No Bahrein a maioria xiita busca reformas democráticas e o fim da discriminação por parte da monarquia muçulmana sunita; os protestos são contra o rei Hamad bin Isa al-Khalifa, e continuam.Em Marrocos as manifestações não são para o fim do reinado do Rei Mohammed VI, mas pela diminuição de seus poderes atribuídos; houve a diminuição dos poderes do monarca porém ainda há insatisfação e protestos populares. No Iêmen o movimento gira em torno da queda do ditador Ali Abdullah Saleh; houve o anúncio de um processo transitório e pacífico para o fim da ditadura; foram registrados acordos feitos pelos rebeldes e a organização terrorista Al-Qaeda. Revolta iniciada na metade de 2012 na Jordânia tem objetivo de derrubar o governo do Rei Abdullah II; anunciaram novas eleições porém a Irmandade Muçulmana (partido forte) boicotou o processo denunciando fraudes e compras de voto. Em Omã não se luta pelo fim do regime monárquico mas por melhores condições de vida, reforma política e aumento de salários; o sultão Qaboos bin Said mantem a situação em controle através de benesses e favores à população.
A partir dos diferentes rumos que os protestos tiveram em cada país podemos perceber que o mundo árabe não tem mais seu futuro dominado pelos EUA, nem organizações como a ONU. Vemos também que é difícil determinar um vencedor e um perdedor, um exemplo disso é a Irmandade Muçulmana do Egito, com a notícia de que Mohammed Morsi iria convocar novas eleições o movimento parece ser o "vencedor", mas isso até a eleição terminar com a vitória do próprio Mohammed que logo depois declarou o fim do movimento, argumentando ser um grupo "terrorista". Novas questões e discussões foram levantadas juntamente com a vontade de derrubada dos líderes de Estado, como: a criação do Curdistão, mesmo sendo vista como improvável já que o povo do Curdistão não tem nenhum apoio; reivindicação de direitos por parte das mulheres, que foram as ruas.A liberdade feminina ainda é pequena, as mulheres não vem tendo grandes vitórias neste ponto, tanto que quando foram às ruas no Egito foram vítimas de agressões e crimes sexuais em público. Há quem pense que o mapa da região provavelmente não permanecerá o mesmo daqui a 5 anos, lembrando que o mapa que vemos hoje, que criou países como Síria e Iraque, foi feito pela França e a Grã-Bretanha ao final da primeira Guerra Mundial. Fracassos em tentativas de tirada de chefe de Estado do poder porque as eleições os colocaram novamente no mesmo cargo causado pela superestimação das mídias sociais uma vez que só a parte alfabetizada da população pode usufruir desse meio, e a mídia televisiva, que é controlada pelo governo, é o único meio de informação dos analfabetos.
A Tunísia é o país que tem mais probabilidades de se tornar democrático, já tinha alguns costumes mais abertos em relação à democracia por causa da quantidade de turistas que recebe, é um país de tradição laica, com uma classe média significativa, as mulheres têm mais importância e existe uma verdadeira sociedade civil. Especialistas dizem que a Tunísia é o laboratório da democracia árabe, se der errado lá não funcionará em nenhum outro país árabe.
A Primavera persiste, 3 anos e muitos movimentos, muitas quedas de ditadores e muito ainda pode ser mudado. Pode-se até dizer que são "ares de mudança", países que nunca pensaram na democracia hoje a têm como objetivo.
-Bruno Borges
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