Um projeto idealizado e realizado por estudantes do ensino médio, o blog Comentaristas surgiu durante conversas entre esses. Com o objetivo de trazer informações dos mais variados temas, desde notícias do cenário "pop" atual, até matérias completas de política e histórias. Como temos um grande número de autores, as opiniões podem e vão variar de autor para autor, podem até colidir, dando ao leitor, dois pontos de vista contrários para analisar.

sábado, 19 de abril de 2014

Altos e Baixos

08:00 Posted by Unknown , No comments
     Acredito firmemente que a nossa vida é feita pelos nossos altos e baixos, destaco, portanto, os dias de minha vida que me fizeram mais feliz e mais triste, aqueles que construíram minha história.
     Minha lembrança marcante mais antiga é da morte de meu avô, 31 de dezembro, dia de ano novo. Era criança, não podia compreender o que a morte significava. Aquele tempo foi duro para minha família, em uma semana estava com a saúde visivelmente impecável, na outra, recebíamos a notícia da morte. Ouvi de meu pai, seu filho mais velho, que quando seu pai não mais se sentiu bem, já no hospital, fez um sinal negativo. Depois de meu avô nunca mais minha família paterna fez festas como antes, não me recordo de confraternizações depois daquele dia.
     Alguns anos mais tarde, em meu aniversário, quando ganhei de presente um pequeno grande amigo. Um filhote  peludo, que em meses se tornou um gigante de quatro patas que me acompanhava a todos lugares. Aquele animal trouxe a alegria infantil que precisava durante minha adolescência.
     Perto do fim de minha adolescência conheci uma garota. O fogo que ardia em meu peito era invisível e incontrolável. Minha amada, era com ela que construiria uma família, levantaria casa e envelheceria. Logo já tínhamos planos de mudança para cidade grande, abandonaria meus pais e meu cão para viver com minha mulher.
   Aos poucos percebia que meu avô era quem eu tinha como exemplo de vida. Era uma homem politicamente ativo, simples, trabalhador, ganhava pouco mas dentre seus irmãos (que tinham melhores empregos) fora o único que conseguiu construir uma casa.
     Num dia que veio a ser importante minha mulher me contou que estava grávida. Eu, no primeiro instante, me espantei, entretanto logo estava animado com a novidade. Tinha um bom emprego como professor, era bem resolvido financeiramente.
     Durante a gestação de minha recém esposa, minha mãe fazia constantes ligações. Ao menos uma vez por dia ligava para casa para saber como as coisas andavam. Em uma das ligações contava chorosa como acharam o meu cão atirado ao chão do pátio, morto. Coitado estava velho, surdo, quase cego. Eu já começava a ter contato com a morte, mas não compreendia.
    O nascimento de meu primeiro filho foi inesquecível. Foi um dia muito marcante, não só pelo meu filho, mas por ter sido a primeira vez que me embebedava por completo.
    Aos poucos entendi o funcionamento da relação vida e morte, mas haviam detalhes importantes que eu ainda não conseguia enxergar.
     Meu filho tinha três anos quando minha mãe me ligou, que agora era só para casos extremamente graves. Meu pai passava mal. Era noite, eu saí de carro sozinho, deixando minha amada em casa com nosso pequeno. Quando estava no hospital com meu pai os médicos perceberam que o velho estava enfartando. Olho para ele e reconheço o sinal que fazia com a mão direita, o mesmo de meu avô.
     A perda de meu pai foi um grande passo para o entendimento do funcionamento da morte e sua relação com a manutenção da vida. Minha mãe que sempre fora forte estava em silenciosa e parada, isso perdurou anos até sua morte, minha esposa diz que morreu por desgosto, os médicos por velhice.
    À noite, em uma conversa com minha mulher, discutimos como nosso filho se sentia solitário, sem ninguém com quem conversar ou brincar, tinha cinco anos e precisava de um novo amigo em casa. Queríamos um segundo filho. A notícia foi a melhor de todas que já havia recebido, em menos de um ano nossos planos começaram a se tornar realidade, minha mulher engravidara novamente.
     A gestação fora muito tranquila, sem nenhuma complicação. A época em que mais sorríamos um ao outro sem nenhum motivo eminente. Contávamos os dias para o nascimento de nossa segunda criança e a cada dia que passava percebia que aquela garota que tinha conhecido tão jovem era realmente com quem eu iria envelhecer. Aquele fogo que ardia quando novo permanecera o mesmo depois de anos juntos.
     Minha esposa entrou em trabalho de parto no dia previsto. Levei-a rapidamente ao hospital. Estávamos ansiosos e animados, mas o que veio a seguir não fora algo que merecíamos. Perdi minha amada e meu segundo filho.
     Houveram complicações durante o parto, suficientes para causar a morte. Meu filho não compreendia o motivo de sua mãe não voltar para casa com seu irmãozinho, era como eu quando pequeno, não compreendia a morte.
     Com cabelos brancos percebo que a morte tem um ciclo habitual dependente da vida. A morte faz com que os velho dê lugar aos mais novos, mas os mais velhos deixam nos mais novos um espaço na memória dedicado a eles. Não compreendemos a razão da morte, mesmo que na hora certa, não entendemos o fim de algo ou alguém. A confusão se agrava quando a morte mistura pontos altos e baixos em mesmos momentos, quando o ciclo habitual da morte é quebrado por uma situação atípica.

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